sino

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Capítulo 6 - Sonhando

A resposta de Lucas, foi algo surpreendente. Estava hospedado na casado irmão em uma cidade próxima , havia se separado de Sonia. Mas tudo isso dito de forma vaga, em tom monocórdio.

- Lu, preciso entender o que está havendo! Porque você foi prái? E o trabalho?

- Já conversei no trabalho, passo lá semana que vem para acertar tudo.

- E eu? Quando te vejo? Posso fazer alguma coisa?

- Por telefone não dá. Quando for ao escritório te ligo e a gente se vê.

Despediram-se assim, sem muitas explicações. Foi uma semana difícil. Os pensamentos não a deixavam em paz e se confundiam com lembranças que ela não sabia porque apareciam agora,neste momento.

 Nos últimos 10, 12 anos, além do envolvimento com as pessoas do mosteiro e sua religião, os estudos de filosofia  levaram-na a vários caminhos. Passou por experiências interessantes e loucas ao mesmo tempo. Entre elas a regressão à vidas passadas dera-lhe explicações convincentes sobre muitas coisas, inclusive sobre seu relacionamento com Lucas.

 Mas, ela mantinha tudo à distância, não buscava dirigir-se pelo que lhe foi mostrado. Queria a vida como é, fluindo sem interferências.

 Mas o que ela mais estranhava, é que uma lembrança bastante antiga viesse agora. Há anos, quando Lucas apenas namorava Sonia, tinha ido à casa dele, no dia de seu aniversário para "receber os parabéns", Como ele não estivesse, resolveu ficar na porta esperando e logo o avistou descendo a rua. Quando a viu, abriu o sorriso de sempre e entrou no carro. Beijou-a, abraçou-a e deu os parabéns. O que ela notou foi que tinha nas mãos um pequeno embrulho de presente e sua alma alegrou-se, devia ser prá ela.Ele falava sem parar, contando coisas que fizera no dia, sempre manuseando o tal embrulho, como querendo chamar a sua atenção. E ela não resistiu mais e perguntou:

- E esse embrulho? O que é?

- Ah! comprei prá Sonia! Você não sabia? Hoje é aniversário de namoro.Veja.
Abriu o embrulho e lhe mostrou um lindo anel de prata.

Ela nunca esqueceu aquela sensação horrível de tristeza e decepção, mas como sempre, na hora reagiu com o máximo possível de naturalidade dizendo:

- Não, eu não sabia, você nunca me contou.

Ela estranhava que ele nunca lhe desse presentes, já que ela sempre o fazia ao menos em datas especiais. Mas, como em geral sabia que homens não ligam muito prá essas coisas, ignorava. Mesmo porque havia aquela série de atitudes e frases fantásticas que substituíam outros mimos.

No dia que Lucas veio para acertar as coisas no escritório, telefonou no fim da tarde e marcaram um encontro em uma lanchonete próxima a casa dela. O encontro foi como tantos outros, exceto por perceber claramente que ele estava confuso e agitado.

- Lu, o que aconteceu? O que você tá fazendo no seu irmão?

- Então, acabou. A discussão foi à noite e aquela velha desgraçada me botou prá fora!

- Quem?

- Minha sogra! Aí eu liguei pro meu irmão e fui prá lá, com uma mochila de roupas.

- Mas e a Sonia?

- Ela não disse nada, e quem cala consente, não é?

- Não sei, acho que vocês deviam conversar, não acha?

- Que nada, a briga foi com ela, ela só não teve coragem de me mandar sair, deixou prá mãe,a dona da casa!

Ela não estava entendendo nada, mas preferiu deixar as coisas correrem.

-Mas como foi no trabalho, como você vai fazer prá trabalhar morando tão longe?

- Eles me deram 10 dias até eu arrumar um lugar mais perto prá ficar.

- E o que você pretende fazer? Ir prá um hotel, Alugar alguma coisa?

- Já reservei um quarto naquele hotel que tem do lado do escritório. Vou no meu irmão pegar minhas coisas e volto amanhã.

- No seu irmão foi tudo bem?

- Claro que não minha cunhada já veio dizendo logo que lá eu não poderia ficar por muito tempo.

- Mas onde você pretende alugar alguma coisa? Você sabe que não posso leva-lo prá minha casa...

- Calma, não se preocupe. Já tenho umas ideias e quando voltar, resolvo. Me leva à estação do trem?

- Claro! E quer que vá busca-lo quando chegar?

- Quero sim.

Ele foi, e voltou no final da tarde seguinte. Dormiram em um motel. Lucas falou a noite toda sem que ela precisasse fazer perguntas. Disse que ligara para Sonia dizendo que queria todos os presentes que lhe dera durante o tempo de namoro e casamento de volta e que ela deveria marcar um dia para que ele fosse buscar o restante de suas coisas inclusive os móveis que mantinha na garagem.

Ela ficava espantada a cada palavra, a cada frase e finalmente falou:

-Móveis, que móveis?

- Quando minha mãe trocou os móveis de casa resolvi ficar com os dela caso a gente montasse uma casa. Mas Sonia nunca quis sair do lado da mãe.

- Nossa, mas não eram móveis velhos?

- Velhos não!  Antigos e de ótima qualidade. Prá que eu iria comprar tudo de novo? Mas a outra lá, torcia o nariz!

- Lu, não acredito que você pediu os presentes de volta!

- Como não? Você dá presentes por carinho, por amor, isso acabou não foi? Então quero tudinho de volta! E vou devolver tudo também! Já deixei com meu irmão, ela vai ter que ir lá buscar.

E realmente dias depois, ele contou que Sonia levara os presentes ( na verdade poucas coisas) e que se recusara a receber os que ele havia deixado para que fossem devolvidos à ela. Havia dito também que ele poderia ir buscar os móveis quando quisesse, mas isso levou semanas para ser resolvido já que Lucas exigia que só o cunhado estivesse na casa no dia, não queria ver nem Sonia nem a sogra.Ela estranhava que em nenhum momento ele falara nas crianças.

-E os meninos?

- Não falei mais com eles. Mas ela vai ver! Quero vê-los quando quiser,só vou esperar até me ajeitar, ter uma casa. Enquanto isso não quero nem telefonar prá não piorar as coisas.

- Você não acha que devia manter contato?

- Prá que, prá eu sofrer mais, não deixa prá lá.

Na manhã seguinte ela o deixou no escritório.

No fim da tarde ele ligou todo entusiasmado dizendo que já havia resolvido a questão do lugar para morar.
Marcaram já na nova casa, que ficava próxima à antiga  casa dos pais dele, que havia sido vendida um ano antes. Pertencia a conhecidos, que não fizeram muitas exigências. Era minúscula,quarto,cozinha e banheiro, com uma única janela, mas bem localizada e suficiente para uma pessoa sozinha.

 Ele estava feliz e a contagiava. Dormiram lá no chão, sobre caixas de papelão. Mas prá ela era como se estivesse em um hotel 5 estrelas. Nos dias que se seguiram, ele, depois de muita discussão,acertou a data de retirar os móveis da casa de Sonia. 10 dias e a casa estava montada. Ela passava horas lá lavando louças (que ele também havia mantido com os móveis),colocando as coisas no lugar, como se estivesse brincando de casinha. Percebia-se sorrindo como uma criança na noite de Natal.

 Uma nova fase começaria para eles. 

Ela passava mais tempo na casa dele no que na própria. Só não podiaa ir prá lá definitivamente porque precisava cuidar da tia e da mãe.

Era tudo muito novo.Um"meio casamento".

Passavam horas ouvindo música,conversando recebendo amigos.Ele desfilava seus dotes culinários,era carinhoso e atencioso. Até demais.

À partir do momento que passaram a ter esta convivência, Lucas a solicitava demais enquanto não estava com ele. Ligava muitas vezes ao dia,chegava a atrapalhar.Mas, até então,ela via isso como apego,amor...

Era um sonho se realizando

Aos poucos, percebeu que havia algo errado.

2 comentários:

  1. Td tão bom, td quase perfeito. Brincando de casinha, novidades, "meio-casamento"... O que poderia estar errado ? Será q ela não merece ser feliz agora ?? Esse Lucas me intriga ...

    Patrícia, estou gostando mt. No final do capítulo,
    sempre esse gostinho de suspense pra fazer a gente querer saber mais. Fico na espera.

    Abrs,
    Tania

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  2. Patricia, mais uma vez parabens!

    Sus escrita me cativa cada vez mais. Como bem falou Tania, sua habilidade de deixar o final do capitulo no suspense, é perfeita. Além disso, sua capacidade de traduzir em palavras simples os sentimentos vividos pelas personagens é peculiar. Aguardo ansciosamente pelo próximo capítulo
    Abraços

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