sino

domingo, 18 de julho de 2010

Capítulo 3 - Amores - muitos

Tarde de sexta - feira.

O frio começa a aumentar, mas não era percebido. Todos andam prá lá e prá cá, preparando o mosteiro para receber novos grupos de visitantes que ficarão até o almoço de domingo.

Ling a havia convidado para participar da recepção o que era uma grande honra, uma demonstração de confiança.

Ela estava no quarto, dando os retoques finais na aparência, que para o acontecimento deveria ser o mais natural possível. Estava feliz. Gostava dos monges e dos iniciantes, mas no momento preferia ter o mosteiro só para si, para continuar sua varredura de memória, seu exercício de auto lembranças.

Que egoísmo - ela diz prá si mesma sorrindo!

Essas pessoas só podem se hospedar aqui uma vez por mês, e com reservas antecipadas. Tenho vindo quando bem quero! E olhando-se no espelho pela última vez, diz: Vamos lá! Ao trabalho!

Ling já estava no alto da escadaria, onde os visitantes receberiam as boas vindas e suas credenciais. Ao vê-la sorriu e acenou para que se aproximasse.

- E  então amiga? Preparada para a avalanche de perguntas e curiosidades?

- Ansiosa Ling! Será que vou conseguir ajudar mesmo?

- Claro que sim! Você já é da casa (sorriu). É só dizer apenas aquilo que sabe. O que não souber, pergunte a nós ou encaminhe as pessoas aos monitres, sem problemas! Vai ser bom prá você dar um intervalo para suas memórias. Observando os outros, muitas vêzes encontramos nossas respostas.

Enquanto falavam, o primeiro micro-ônibus, entrava pelo caminho sinuoso até o estacionamento. E dele começaram a surgir os primeiros visitantes. Um grupo de idosos que pareciam liderados por um senhor oriental que falava o tempo todo apontando os lugares especiais do templo. Algumas pessoas na faixa dos quarenta, sozinhos ou em duplas. E três casais na faixa dos 20. Lindos como todos os jovens são, sorridentes e ágeis. Foram os primeiros a chegar ao alto da escadaria.

-Boa tarde, disse a garota de longos caracóis louros. O que precisamos fazer?

Ling fez uma reverência para acompanhar o boa tarde e olhou para ela de soslaio, incumbindo-a  daquela recepção.

-Ela, inexplicavelmente corada, apresentou-se à jovem e disse-lhe que bastavam as apresentações e a retirada das credenciais, e que depois iria acompanhá-los até a sala da primeira atividade da tarde.

Enquanto isso Ling recebia os outros grupos que vinham chegando, mas não sem prestar atenção ao comportamento da amiga. Depois de entregar as credenciais, apresentava-os (em grupos de 8) aos monitores que os encaminhavam para a sala de atividades.

Enquanto andavam, ela ia observando aqueles jovens casais felizes como se nada mais houvesse no mundo além daquele lugar e aquelas pessoas. A jovem de caracóis louros, era naturalmente a líder do grupo. Todos a seguiam, como um imã. Teve saudade...

A primeira atividade consistia em informações gerais sobre o templo, permissões e proibições, horários, códigos de conduta.  Encerrava-se com uma breve oração de agradecimento e seguiam para o jantar no refeitório.

O barulho era grande, as pessoas ainda estavam excitadas, os casais andavam e trocavam beijos rápidos, visivelmente entusisasmados com as novas experiências. Ao lado deles, os jovens monges monitores, sempre discretos e sorridentes.

Ling, se aproxima do grupo, localiza a aniga e vai até ela que diz: Bem, estão entregues!

Ling diz: e porque acho que vejo uma sombra de melancolia no seu rosto?

-Lembranças amigo, lembranças...

-Lembranças são registros da vida querida, não nos devem deixar melancólicos, devem nos lembrar o longo caminho que já percorremos, o quanto já aprendemos....

Caminhavam lado a lado com certa distância do grupo que já entrava no refeitório e buscava seus lugares.

Jantaram juntos e em seguida, ela pediu  licença para recolher-se. Despediu-se de Ling e dos outros monitores e foi para seu quarto com a imagem da mocinha que liderava seu grupo de casais.

Ali, sozinha, deixou as lembranças fluirem. Ela também havia sido a líder de seu grupo. Era admirada pelos amigos, pelos pais deles, pelos professores... Mas o que mais chamava atenção de todos, era que nunca ficou sozinha, sem namorado. E esteve apaixonada, pela última vez, o tempo todo. Isso a fazia sorrir agora, mas era complicado na época.

Logo após a decepção com Márcio, houve o primeiro namoro. Pedro era mais velho, estava 2 séries à sua frente! Foi tudo emocionante! A primeira dança no baile, o primeiro beijo, os primeiros passeios de mãos dadas. Mas foi também um tormento, pois o garoto era a paixão de uma das melhores amigas. Na verdade, nem se lembra porque terminou depois de três longos mêses (naquele tempo isso era uma boa quantidade de tempo).

As amigas mau podiam acreditar, que os meninos mais cobiçados da escola e do clube se apaixonavam por ela, afinal, definitivamete, não era a mais bonita. Mas era assim que acontecia.

Depois apaixonou-se por Willian, um filho de amigos dos pais, que mudara-se para sua cidade recentemente, e que era louco por ela desde os 9 anos... e "já " tinham 13 agora! Era lindo, um cavalheiro!
Mas novamente uma grande confusão. Mesmo depois que o namoro terminou, ele nunca deixou de se interessar por ela, mantiveram uma amizade gostosa mas que fazia as pessoas pensarem que ainda havia algo. E outra de suas melhores amigas, era apaixonada por ele também! Se fosse repassar todas as etapas deste episódio, levaria o resto dos dias de sua passagem pelo mosteiro. Melhor deixar prá outra hora!

Mas, já não havia nada. E na verdade, não haveria mais nada por décadas. Foi nesta época que conheceu o aluno novo da sala, Lucas.

No segundo dia de aulas de ciências, a professora cobrou da turma o nome dos integrantes dos grupos de trabalho. Todos se apresentaram e a professora notou que Lucas não estava incluído entre eles. Informou à sala e perguntou quem o incluiria. Ninguém se manifestou. Lucas, muito menos, permanecia absorto, desenhando algo em seu caderno.

Acontece que Lucas, além de novo na sala, era diferente dos outros. Muito mais alto e forte que os outros garotos, sempre com um ar desligado, olhando de cima e com um violão nas costas, que sacava a qualquer momento, em um canto isolado qualquer e começava a tocar e cantar divinamente. Seu único companheiro era Paulo, três séries a frente e o oposto dele. Carismático, falava com todos, era muito querido.

Mas, como tudo que era intrigante a atraia, quando a professora estimulou novamente a sala a incluir o novo aluno, ela levantou-se e disse que o aceitaria, sob os olhares estupefados das outras integrantes (sim eram mais 4 meninas). Foi até a carteira de Lucas, do outro lado da sala, apresentou-se, e finalmente, viu naquele rosto uma expressão sem carrancas e o rápido som de um "valeu", que repondeu com um sorriso. Olhou o desenho que ainda não terminara e impressionada com a qualidade do trabalho disse: Que lindo! É um Taurus 38, não é? Lucas não podia acreditar! Como aquela menina tonta podia reconhecer uma arma?

Era só uma das coisas que descobririam um sobre o outro pelo resto de suas vidas.

Até que ela entendesse que ele era um engôdo, simplesmente não existia.



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2 comentários:

  1. "Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias." Pablo Neruda )
    Querida, expressar as idéias guardadas dentro de vc, é o que há de melhor!
    Cada vez que leio, gosto mais!
    Bjs,
    @renatafmaia

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  2. Parabens,

    Vi o endereço do seu blogo no twitter (não lembro quem indicou) e comecei a ler os seus textos. Estou gostando muito. Espero que venha muitos mais
    Um abraço
    @danilofrausino

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