sino

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Capítulo 2- Amores, prólogo

Amanhecer ali, é sempre um acontecimento!

Os raios de sol entram pelas frestas da janela e o canto dos pássaros trazem paz e alegria aos primeiros minutos do dia.

E hoje o dia será gratificante. Última aula de Feng Shui, técnica que adora, mas que talvez não venha a usar mais profissionalmente, noção espacial, desenhos, nunca foram seus melhores dons.

De qualquer forma, corre (está sempre correndo) para a sala de aula, onde é recebida por Ling, um dos amigos mais antigos por aqui, com seu sorriso tímido e doce.

- Pare de correr amiga! Tá fugindo do que? (risos)

E ela responde com uma piscadela e um gesto maroto com as mãos, de "ainda me vingo!"

A aula transcorre normalmente,cada palavra,cada novo conceito parece abrir portas da alma. É um curso para especialistas, avançado, que faz referências a todas as escolas existentes sobre o assunto. Mas para ela, a concentração não é total. À seguir, virá o almoço e o intervalo que o segue, e ainda não esqueceu o compromisso assumido consigo mesma, que desta vez relaxará e começará a por ordem nos pensamentos.

Caminha pelo jardim até o refeitório comentando os novos conhecimentos com Ling e outra jovem estudante, que faz lembrar a si mesma nos primeiros tempos em que esteve aqui ávida por descobertas.

Dispensa a sobremesa, faz a reverência de agradecimento e sai, controlando a velocidade dos passos em direção ao "lago das descobertas" nome que deu ao lugar na véspera, ao imaginar-se ali revirando a memória.

Desta vez, não tinha nada nas mãos, nenhum livro, nenhuma distração.

Uma breve sessão de respiração e meditação para concentrar-se e ela já se sente preparada para começar.

Por onde?

Sobre quando?

Sobre o que?

Ela acha melhor começar pelo assunto que sempre moveu sua vida. Por aquilo que a  mantém viva e imune a qualquer coisa: os amores!

Ah os amores! Foram todos eternos! Todos únicos! Mas só hoje ela sabe disso.

Viveu-os todos como se fossem o último. Como se sem eles, o mundo, a vida, acabassem. Mas não acabam...

Qual foi o primeiro mesmo?

Ah sim! Nossa, como de titubear! Era para ter morrido ali mesmo, no dia que conheceu a "noiva" do amado, uma menina linda e delicada, exímia bailarina, gestos leves. O oposto dela, sempre correndo, sempre atabalhoada! 

Tinham 12 anos. Marcio era um garoto diferente dos outros, loiro, cabelos longos,a "cara" do sujeito do Pink Floyd!
Ela sabia até quantos filhos teriam. Conhecia e era amiga da família, afinal,faria parte dela!

Até o dia que Lidia surgiu no colégio, transferida de outro bairro e derramou sobre sua vida as primeiras gotas (prá ela as últimas e definitivas) de um fel chamado decepção amorosa, não sabia de sua existência.
Imaginava que Márcio estivesse no mundo a sua espera!

Pela primeira vez na vida, não foi direto da escola prá casa. Ficou no pátio aos prantos. Era como se o mundo houvesse acabado, não sabia o que fazer ou para onde ir.
 Porque ele nunca havia falado em Lidia prá ninguem?

Porque parecia estar interessado nela?

As lágrimas criavam uma cortina impenetrável entre sua razão e seu comportamento... 

E foi ali, naquela situação, sentada na mureta do colégio, que aprendeu que a ajuda vem de onde menos se espera.

 Olga, colega de sala, mais velha (muito velha para seus padrões), com seus 14 anos, que sempre foi tão quieta e distante dos outros, sentou-se ao seu lado e perguntou se podia fazer algo.

Mas ela mau conseguia falar, soluçava.

Olga e seus cabelos enormes presos em um eterno coque e suas saias longas, sempre tão estranhas, esperou até que se acalma-se um pouco, foi buscar um copo de água (a melhor que já tomou) e perguntou novamente se podia ajudar.

 Respondeu que não, que sua vida havia terminado, que nunca mais seria feliz....

 Olga sorriu e perguntou se estava assim por causa da chegada triunfal de Lidia ao colégio.

 Ela se assustou.

Como Olga poderia saber?

- olha, disse Olga. Todo mundo sabe que você é apaixonada por ele. Mas pelo que eu soube os dois já namoram há muito tempo (1 ano...) até ficaram noivos! Mas existem tantos outros meninos, e muitos apaixonados por você... Jesus trará à você a pessoa certa, é só confiar.

Estas "revelações" sobre sua tolice e inocência a fizeram ter calafrios! Não entendeu o que Jesus tinha a ver com a história, tudo muito confuso...

Só hoje aqui, revendo sua história, se dava conta de que passou o resto daquela tarde com a amiga,conversando, recebendo carinho genuíno e claro, chorando o fim de sua vida amorosa para sempre!

Mas foi bom conhecer o valor de uma amizade, ainda mais vinda de um ser diferente, agora sabia que era  por convicções religiosas que Olga usava aquele cabelo,aquelas roupas.

Foi bom também ouvir aquelas frases bíblicas todas, que até então tinham passado despercebidas.

Finalmente foi para casa, olhos vermelhos, direto pro quarto de onde só sairia no dia seguinte para ir ao colégio e descobrir que Olga, já não estudava mais lá. Nunca mais soube dela....

Os sinos do mosteiro anunciam as atividades do começo de noite, e ela fica imaginando enquanto caminha, por quanto tempo ainda terá que fazer estas varreduras de memória para repensar  seus amores... foram tantos...

5 comentários:

  1. BELO TEXTO ....
    NA VERDADE QUASE TODOS JÁ TIVEMOS HISTÓRIAS PARECIDAS COM ESTA EM NOSSA ADOLESCENCIA.
    ILUSÕES, SONHOS, ANSEIOS, DESILUSÕES, DECEPÇÕES, RISOS E LÁGRIMAS MARCARAM A NOSSA FASE DE "DESCOBERTAS DO MUNDO".
    O IMPORTANTE É QUE APRENDAMOS COM TODAS ESSAS EXPERIENCIAS E QUE TAMBÉM SAIBAMOS PASSAR EXPERIENCIA PARA OS MAIS NOVOS, PARA QUE APRENDAM A SUPORTAR E SUPERAR AS SITUAÇÕES AMARGAS QUE TODOS ACABAM EXPERIMENTANDO DESDE A JUVENTUDE.
    É RECONFORTANTE QUANDO OLHAMOS PARA TRÁS E OBSERVAMOS QUE APESAR DAS DECEPÇÕES QUE ENFRENTAMOS, CONTINUAMOS VIVENDO E NOS APAIXONANDO PELA VIDA E PELAS PESSOAS INDISTINTAMENTE, COMO NO EXEMPLO DA JOVEM PROTAGONISTA DESTE LINDO TEXTO.

    @DRLUIZAUGUSTO_
    14 de julho de 2010 20:14

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  2. Ha...todas ja passamos por isso,o fim da vida do mundo,e quando percebemos ja estamos apaixonadas de novo,tudo igual...ou não...muito bom,me fez pensar.Bjo!

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  3. Por que a gente sempre pensa que vai morrer quando um amor acaba e a gente nunca morre? Como diz uma amiga minha: o próximo sempre será melhor, e é assim que vou levando minha vida amorosa, aos trancos e barrancos.

    Gostei muito, mas te achei uma monstra por sumir com a amiguinha, a Olga. Sacanagem.

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  4. Muito bom... me remeteu a um passado "interior".
    Tantas moçinhas passaram e passam por estes "momentos dolorosos" e até mesmo platônicos.
    Hoje valorizo cada instante vivido,principalmente por uma louca paixão que tive que acompanhar até o altar (não, eu não era a noiva). Foi doloroso demais... Mas agradeço por ter vivido, e viver, meus amores pois somente assim, tenho histórias para recordar e saber que amigos existem também para nos ajudar levantar.
    Abraços
    MaraLu_

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  5. Muito bom! Acho ótimo esta idéia de livro-blog, parabéns! Não vou perder nenhuma postagem!

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