sino

sábado, 31 de julho de 2010

Capítulo 5 - Vivendo

Ela praticamente voou para a casa dele! (ficava há menos de 2 km), no trajeto repassava o discurso que faria, tomaria satisfações e diria tudo o que tinha vontade. Poria fim a esta situação absurda e sem futuro. Se fosse preciso e tivesse vontade iria agredi-lo fisicamente! Estacionou ruidosamente em sua porta e foi entrando veloz, furiosa.
Lucas já abrira a porta e ela entrou já aos gritos:
- Pode começar a falar! Que palhaçada foi essa?
Ele se aproximou dela inclinando-se para beijar seu gosto, dizendo um oi sem graça.
Ela apressou-se em jogar seu corpo tenso no sofá enquanto dizia:
- Que oi? Do que você tá falando? Como pode fazer isso?
- Anjo, calma, prá que ficar assim? Desse jeito você nem vai me ouvir!
- Ouvir o que? Que você é um cafajeste em quem eu achava que podia confiar?
-E você pode!
- A posso? Então porque você não me falou nada?
- Mas eu falei hoje no telefone!
- Tenha dó! Você sabe do que eu estou falando! Você tinha que ter me contado! Ou vai dizer que resolveram se casar na véspera?
- Entendi, você tá querendo dizer que eu deveria ter convidado você prá madrinha, ou chamado para a cerimônia, essas coisas?
- Não seu retardado! Mas acho que tinha o direito de ter sido avisada de que o amor da minha vida estava prestes a me deixar (já chorando muito), que tinha feito uma escolha....
- Não é nada disso! Se eu dissesse antes, você teria sofrido mais, por mais tempo, e prá que?
Ele se aproximou e a puxou para si, abraçando-a. Ela foi tomada por soluços que sacudiam todo seu corpo e atirou-se ao seu pescoço, abraçando-o enquanto ele dizia:
- Nada vai mudar... por isso não achei correto antecipar suas preocupações...
Ela só chorava, mas foi se acalmando com seus carinhos. Em poucos minutos estavam aos beijos, abraços e fazendo amor com intensidade como sempre.
Na verdade ela nem se lembra direito de suas explicações, só sabe que suas palavras eram perfeitas, faziam muito sentido como sempre...
Adormeceram e horas depois acordaram, ele preocupado com o horário. Tinha que ir. E ela querendo trancá-lo em algum lugar, impedi-lo de se afastar, mas ele começou a encerrar a conversa e diminuir suas angústias dizendo:
- Nada vai mudar. Não se preocupe. Só cedi às cobranças da minha família e à dela. Afinal, você diz que não pode se casar, que prefere deixar as coisas como estão. Mas não é assim que as pessoas que namoram por 7 anos pensam! Eles estavam me alugando!
- Tá, acho que vou me acostumar. Mas como a gente fica?
- Como sempre! Você cuidando de sua família, eu lá, e nós juntos,assim....(abraçando-a).
- Mas como vou te achar? Ou vou poder ligar prá casa de vocês.
Ele riu e disse: - Claro que não, eu te acho, pode deixar.
- Lu, me conta ao menos onde foi o casamento, a festa...
- (sorrindo). Bobinha... foi apenas no cartório, burocracia pura e simples. Eu jamais faria toda aquela encenação de igreja, terno, festa... A festa foi um bolo com champangne na casa deles mesmo. Coisa de gente pobre e sem nenhuma noção de nada! Esta vai ser a parte mais difícil prá mim, conviver com aquela gente de periferia, sem classe nenhuma, sem berço... E claro, a saudade de estar com você mais tempo e na hora que eu quiser.
Ela o abraçou e beijou dizendo: - Tá certo amor, como era mesmo aquela nossa explicação pro nosso caso?
E ele respondeu: Eles são os invasores, não nós dois!
Despediram-se como se tudo estivesse na mesma de 3 dias atrás.
Ela voltou prá casa, agora suspirando e sentindo-se estranhamente calma, tranquila. Era isso, ele era uma droga, um vício que quando usado desaparecia com todos os problemas, tornava a vida cor de rosa, imensa e feliz.
Os anos se passaram. Ela continuava cuidando dos pais e da tia cada vez mais dependentes, estudando muito e trabalhando. Ele, manteve o que dissera, continuaram a se ver com frequência. E isso foi constantes por muitos tempo. Só se afastaram por cerca de um ano após o nascimento do segundo filho dele (6 anos depois do primeiro)., ele dizia que a família o estava exigindo demais e como ela também tinha muitas preocupações, nem teve tempo de estranhar. O simples fato de ele existir já era suficiente.
Ela estranhava o fato de Lucas e Sonia nunca terem ido morar em uma casa deles. Moravam com a mãe dela ( o pai falecera pouco depois do casamento), mas, não interferia na vida dos dois. Ao contrário, chegava a ralhar com Lucas quando ele falava mal da esposa ou da família dela.
De qualquer forma, aos 34 anos, ela já considerava-se uma pessoa madura e esperta. Nesta época já tinha há tempos o apoio dos amigos Ling e Miguel, verdadeiros guias para a serenidade, que na verdade só ficava com ela por breves períodos, continuava ansiosa e com pressa eterna, sem entender o porque, afinal, tinha a vida que escolhera.
Foram muitos encontros, risos, admiração pela "sabedoria" das palavras perfeitas dele. Muito amor que ela acreditava correspondido.
Até um dia em que ela pensou estar revendo um filme antigo. Depois de muitas tentativas (e agora havia o recurso do celular), ela não conseguiu localizar Lucas em nenhum lugar e nem seus pais. E foi uma espera angustiante de 4 dias, até que finalmente ele atendeu sua ligação com uma voz estranhamente desanimada.
- Alô...
- Lucas! Onde você está?...
Mal sabia ela o que a esperava....

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Capítulo 4 Amores - Depurando

Ao chegar na sala de reuniões, Mestre Miguel já falava sobre as seis perfeições e não deixou de notar que estava atrasada.
Mestre Miguel era uma espécie de monge e gerente do mosteiro. Brasileiro, gaúcho, estudara no Tibet por 8 anos antes de retornar ao Brasil e assumir a parte burocrática e relações externas do mosteiro. As pessoas se surpreendiam com seu bom humor e com a facilidade com que transmitia ensinamentos complexos de forma simples e alegórica, especialmente aos visitantes de primeira viagem.
Logo na primeira vez que ela visitou o mosteiro, a amizade entre os dois floresceu. Como Miguel tinha muitos afazeres,entregou a orientação dela aos cuidados de Ling.
Formavam um trio inusitado! Hospedavam-se em sua casa quando iam à cidade e não se cansavam de relembrar as dificuldades que ela lhes causou nas primeiras vezes em que os visitou. Ela era ansiosa e rebelde, exigia respostas que eles diziam não existir... e foi por isso que ao final de sua palestre,Mestre Miguel pediu a Ling que a chamasse para uma conversa.
Ela entrou na sala de Miguel, fez a reverência habitual e a completou com um beijo no rosto que sempre o constrangia.
- Olá Mestre! Queria falar comigo?
- Minha amiga, percebi que chegou atrasada nas atividades da manhã. E apenas queria saber se posso ajudar em algo. Como vai sua busca? As lembranças estão sendo organizadas?
- Desculpe pelo atraso! É que essa minha viagem interior, às vezes me leva aos tempos de   ansiedade e irresponsabilidade! Fui dormir muito tarde!
- Não precisa se desculpar, eu apenas estranhei. E você nunca foi irresponsável minha querida, ao contrário! Saia do ritmo por buscar caminhos corretos. Achou? (ele sorri)
- Mestre, o que descobri é que não existem os tais caminhos. A vida é feita de vida e esta é instável, inconstante. Mas estou chegando lá. Minhas viagens já estão todas organizadas, em breve aterrizo no presente (riram juntos).
- Então está bem, vamos lá que a hora do almoço está chegando.
Depois do almoço, ela reencontrou a mocinha dos cabelos dourados em frente à grande estátua de Buda, e a moça perguntou:
- Se ele era tão sábio, era vegetariano e caminhava o tempo todo, como podia ser tão gordo?
Ela sorriu e explicou que  na verdade,a figura de um homem gordo e sorridente apenas representava a plenitude do ser, a força, mas que Buda nunca foi gordo.
A garota disparou perguntas a que ela foi respondendo pacientemente até que se despediu dizendo que tinha tarefas a cumprir.
Definitivamente a garota fazia lembrar-se de si mesma.
Voltou para seu quarto, já que com tantos visitantes não conseguiria isolar-se em nenhuma outra parte do mosteiro. Sentou-se em sua almofada, ligou o som em um mantra  de concentração e ficou assim por alguns minutos. Quando terminou, a figura de Lucas jovem, já estava presente diante dela.
Foi uma juventude muito feliz. Ela, Paulo e Lucas iam e voltavam para a escola juntos, ao clube, aos bailes, cantavam e eles tocavam violão o tempo todo. Ela e Lucas namoravam por alguns meses, terminavam, voltavam...
As pessoas que os conheciam e os amigos já nem estranhavam mais.
Já naquela época, ela estranhava um comportamento de Lucas: quando as pessoas estavam mais empolgadas com a música que ele tocava,ele simplesmente parava gerando grandes protestos.E era sempre assim.Ela estranhava mas deixava prá lá. Não compreendia.
Também chamava a atenção de todos o vocabulário dele, incomum naquela idade, cheio de frases de efeito sempre usadas na hora certa! Ficavam admirados como ele tinha resposta para tudo!
Mas a vida foi passando entre cantos,danças, esportes e risos. Muitos amigos queridos, alguns que levariam até a idade adulta.
Quando ela e Lucas estavam com 18 anos, uma tragédia acometeu o grupo. Paulo, morreu,segundo informações da época de um aneurisma cerebral. O choque foi terrível para todos. Os fez crescer.Para ela, foi a descoberta da Doutrina Espírita, precisava de algo que a consolasse.
Lucas também ficou abalado, mas agia estranhamente e pouco tempo depois, parecia que nada de grave havia acontecido, embora sempre falasse do amigo com carinho e saudade.
Nesta época,ele conheceu Sonia, 5 anos mais nova, linda,com quem namorou por sete longos anos até se casarem.
Mas,durante esses 7 anos, Lucas nunca se afastou dela. Ela odiava as palavras, mas o que tinham era "um caso", eram amantes. E os dois acreditavam que não estavam traindo ninguém. Eram pessoas à parte, as pessoas que entravam em suas vidas é que estavam invadindo seu espaço, nunca o contrário.
Ela vivia com os pais idosos e uma tia doente. Estudava e trabalhava. Não tinha liberdade de trazê-lo em sua casa, portanto, viam-se em qualquer oportunidade que aparecesse.
Foi em um dia desses,em que estaria livre para vê-lo que ela telefonou o dia todo para Lucas sem sucesso. Ligou à noite, na madrugada também, e nada. Estava preocupada,mas,como ninguém atendeu, imaginou que Lucas e os pais haviam viajado para resolver alguma coisa na casa de praia.
Na manhã seguinte, ao acordar, correu novamente para o telefone, apreensiva. Desta vez, Lucas atendeu. Ela quase não conseguia falar. Perdera o fôlego com o alívio...
- Oi!
- Oi! E aí? tudo bem?
- Tudo! Nossa, liguei ontem o dia inteiro, a noite, onde você se escondeu?
- É eu não estava aqui.
- E seus pais? Foram para a praia?
- Foram
- Você voltou sozinho ou eles estão aí também?
- Não, eles foram sozinhos eu não fui com eles.
- Ah é... E onde o senhor esteve a noite toda? (rindo)
- Olha, se quiser venhaprá  cá, precisamos conversar.
- Ih Não tô gostando!Aconteceu alguma coisa? Eles estão bem?
- Não tem nada a ver com eles. Anjo,é o seguinte, eu não moro mais aqui. Só passei prá pegar umas coisas e por água nas plantas porque minha mãe vai ficar fora a semana toda.
- Como assim, não mora mais aí? Brigou com eles?
- Não
- Caramba! Dá prá dizer o que está acontecendo? (ela já estava irritada e quase gritando)
- Não quer vir aqui? Estou com saudade
- (já derretida) Não Lu, fala logo o que aconteceu.
- Anjo, anteontem foi o dia do meu casamento .
 Ela perdeu a voz, ficou com o telefone nas mãos geladas, mau conseguia respirar...
- Alô! anjo....
- ..............................................

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Intervalos entre capítulos

Antes de dormir, ela estava no quarto ouvindo música, quando ouviu as batidas na porta. Abriu.
Era Ling, pedindo que abaixasse um pouco o som, um dos novos hóspedes havia reclamado.
Ruborizada ela desculpou-se.
Ling perguntou se poderia entrar um pouco para ouvir a música também.
Explodiram em risos cúmplices e ela ligou o som, mais baixo agora, para ouvir:

Tente Outra Vez

Raul Seixas

Veja

Não diga que a canção está perdida

Tenha fé em Deus, tenha fé na vida

Tente outra vez

Beba

Pois a água viva ainda está na fonte

Você tem dois pés para cruzar a ponte

Nada acabou, não não não não

Tente

Levante sua mão sedenta e recomece a andar

Não pense que a cabeça agüenta se você parar,

não não não não

Há uma voz que canta,

uma voz que dança,

uma voz que gira

Bailando no ar

Queira

Basta ser sincero e desejar profundo

Você será capaz de sacudir o mundo, vai

Tente outra vez

Tente

E não diga que a vitória está perdida

Se é de batalhas que se vive a vida

Tente outra vez

Ling, com uma expressão feliz, despediu-se da amiga,que fechou a porta, encostou-se nela e sorriu com a situação....
Um monge tãocompenetrado e sábio....
Música, bálsamo para todos!
Adormeceu feliz.

domingo, 18 de julho de 2010

Capítulo 3 - Amores - muitos

Tarde de sexta - feira.

O frio começa a aumentar, mas não era percebido. Todos andam prá lá e prá cá, preparando o mosteiro para receber novos grupos de visitantes que ficarão até o almoço de domingo.

Ling a havia convidado para participar da recepção o que era uma grande honra, uma demonstração de confiança.

Ela estava no quarto, dando os retoques finais na aparência, que para o acontecimento deveria ser o mais natural possível. Estava feliz. Gostava dos monges e dos iniciantes, mas no momento preferia ter o mosteiro só para si, para continuar sua varredura de memória, seu exercício de auto lembranças.

Que egoísmo - ela diz prá si mesma sorrindo!

Essas pessoas só podem se hospedar aqui uma vez por mês, e com reservas antecipadas. Tenho vindo quando bem quero! E olhando-se no espelho pela última vez, diz: Vamos lá! Ao trabalho!

Ling já estava no alto da escadaria, onde os visitantes receberiam as boas vindas e suas credenciais. Ao vê-la sorriu e acenou para que se aproximasse.

- E  então amiga? Preparada para a avalanche de perguntas e curiosidades?

- Ansiosa Ling! Será que vou conseguir ajudar mesmo?

- Claro que sim! Você já é da casa (sorriu). É só dizer apenas aquilo que sabe. O que não souber, pergunte a nós ou encaminhe as pessoas aos monitres, sem problemas! Vai ser bom prá você dar um intervalo para suas memórias. Observando os outros, muitas vêzes encontramos nossas respostas.

Enquanto falavam, o primeiro micro-ônibus, entrava pelo caminho sinuoso até o estacionamento. E dele começaram a surgir os primeiros visitantes. Um grupo de idosos que pareciam liderados por um senhor oriental que falava o tempo todo apontando os lugares especiais do templo. Algumas pessoas na faixa dos quarenta, sozinhos ou em duplas. E três casais na faixa dos 20. Lindos como todos os jovens são, sorridentes e ágeis. Foram os primeiros a chegar ao alto da escadaria.

-Boa tarde, disse a garota de longos caracóis louros. O que precisamos fazer?

Ling fez uma reverência para acompanhar o boa tarde e olhou para ela de soslaio, incumbindo-a  daquela recepção.

-Ela, inexplicavelmente corada, apresentou-se à jovem e disse-lhe que bastavam as apresentações e a retirada das credenciais, e que depois iria acompanhá-los até a sala da primeira atividade da tarde.

Enquanto isso Ling recebia os outros grupos que vinham chegando, mas não sem prestar atenção ao comportamento da amiga. Depois de entregar as credenciais, apresentava-os (em grupos de 8) aos monitores que os encaminhavam para a sala de atividades.

Enquanto andavam, ela ia observando aqueles jovens casais felizes como se nada mais houvesse no mundo além daquele lugar e aquelas pessoas. A jovem de caracóis louros, era naturalmente a líder do grupo. Todos a seguiam, como um imã. Teve saudade...

A primeira atividade consistia em informações gerais sobre o templo, permissões e proibições, horários, códigos de conduta.  Encerrava-se com uma breve oração de agradecimento e seguiam para o jantar no refeitório.

O barulho era grande, as pessoas ainda estavam excitadas, os casais andavam e trocavam beijos rápidos, visivelmente entusisasmados com as novas experiências. Ao lado deles, os jovens monges monitores, sempre discretos e sorridentes.

Ling, se aproxima do grupo, localiza a aniga e vai até ela que diz: Bem, estão entregues!

Ling diz: e porque acho que vejo uma sombra de melancolia no seu rosto?

-Lembranças amigo, lembranças...

-Lembranças são registros da vida querida, não nos devem deixar melancólicos, devem nos lembrar o longo caminho que já percorremos, o quanto já aprendemos....

Caminhavam lado a lado com certa distância do grupo que já entrava no refeitório e buscava seus lugares.

Jantaram juntos e em seguida, ela pediu  licença para recolher-se. Despediu-se de Ling e dos outros monitores e foi para seu quarto com a imagem da mocinha que liderava seu grupo de casais.

Ali, sozinha, deixou as lembranças fluirem. Ela também havia sido a líder de seu grupo. Era admirada pelos amigos, pelos pais deles, pelos professores... Mas o que mais chamava atenção de todos, era que nunca ficou sozinha, sem namorado. E esteve apaixonada, pela última vez, o tempo todo. Isso a fazia sorrir agora, mas era complicado na época.

Logo após a decepção com Márcio, houve o primeiro namoro. Pedro era mais velho, estava 2 séries à sua frente! Foi tudo emocionante! A primeira dança no baile, o primeiro beijo, os primeiros passeios de mãos dadas. Mas foi também um tormento, pois o garoto era a paixão de uma das melhores amigas. Na verdade, nem se lembra porque terminou depois de três longos mêses (naquele tempo isso era uma boa quantidade de tempo).

As amigas mau podiam acreditar, que os meninos mais cobiçados da escola e do clube se apaixonavam por ela, afinal, definitivamete, não era a mais bonita. Mas era assim que acontecia.

Depois apaixonou-se por Willian, um filho de amigos dos pais, que mudara-se para sua cidade recentemente, e que era louco por ela desde os 9 anos... e "já " tinham 13 agora! Era lindo, um cavalheiro!
Mas novamente uma grande confusão. Mesmo depois que o namoro terminou, ele nunca deixou de se interessar por ela, mantiveram uma amizade gostosa mas que fazia as pessoas pensarem que ainda havia algo. E outra de suas melhores amigas, era apaixonada por ele também! Se fosse repassar todas as etapas deste episódio, levaria o resto dos dias de sua passagem pelo mosteiro. Melhor deixar prá outra hora!

Mas, já não havia nada. E na verdade, não haveria mais nada por décadas. Foi nesta época que conheceu o aluno novo da sala, Lucas.

No segundo dia de aulas de ciências, a professora cobrou da turma o nome dos integrantes dos grupos de trabalho. Todos se apresentaram e a professora notou que Lucas não estava incluído entre eles. Informou à sala e perguntou quem o incluiria. Ninguém se manifestou. Lucas, muito menos, permanecia absorto, desenhando algo em seu caderno.

Acontece que Lucas, além de novo na sala, era diferente dos outros. Muito mais alto e forte que os outros garotos, sempre com um ar desligado, olhando de cima e com um violão nas costas, que sacava a qualquer momento, em um canto isolado qualquer e começava a tocar e cantar divinamente. Seu único companheiro era Paulo, três séries a frente e o oposto dele. Carismático, falava com todos, era muito querido.

Mas, como tudo que era intrigante a atraia, quando a professora estimulou novamente a sala a incluir o novo aluno, ela levantou-se e disse que o aceitaria, sob os olhares estupefados das outras integrantes (sim eram mais 4 meninas). Foi até a carteira de Lucas, do outro lado da sala, apresentou-se, e finalmente, viu naquele rosto uma expressão sem carrancas e o rápido som de um "valeu", que repondeu com um sorriso. Olhou o desenho que ainda não terminara e impressionada com a qualidade do trabalho disse: Que lindo! É um Taurus 38, não é? Lucas não podia acreditar! Como aquela menina tonta podia reconhecer uma arma?

Era só uma das coisas que descobririam um sobre o outro pelo resto de suas vidas.

Até que ela entendesse que ele era um engôdo, simplesmente não existia.



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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Capítulo 2- Amores, prólogo

Amanhecer ali, é sempre um acontecimento!

Os raios de sol entram pelas frestas da janela e o canto dos pássaros trazem paz e alegria aos primeiros minutos do dia.

E hoje o dia será gratificante. Última aula de Feng Shui, técnica que adora, mas que talvez não venha a usar mais profissionalmente, noção espacial, desenhos, nunca foram seus melhores dons.

De qualquer forma, corre (está sempre correndo) para a sala de aula, onde é recebida por Ling, um dos amigos mais antigos por aqui, com seu sorriso tímido e doce.

- Pare de correr amiga! Tá fugindo do que? (risos)

E ela responde com uma piscadela e um gesto maroto com as mãos, de "ainda me vingo!"

A aula transcorre normalmente,cada palavra,cada novo conceito parece abrir portas da alma. É um curso para especialistas, avançado, que faz referências a todas as escolas existentes sobre o assunto. Mas para ela, a concentração não é total. À seguir, virá o almoço e o intervalo que o segue, e ainda não esqueceu o compromisso assumido consigo mesma, que desta vez relaxará e começará a por ordem nos pensamentos.

Caminha pelo jardim até o refeitório comentando os novos conhecimentos com Ling e outra jovem estudante, que faz lembrar a si mesma nos primeiros tempos em que esteve aqui ávida por descobertas.

Dispensa a sobremesa, faz a reverência de agradecimento e sai, controlando a velocidade dos passos em direção ao "lago das descobertas" nome que deu ao lugar na véspera, ao imaginar-se ali revirando a memória.

Desta vez, não tinha nada nas mãos, nenhum livro, nenhuma distração.

Uma breve sessão de respiração e meditação para concentrar-se e ela já se sente preparada para começar.

Por onde?

Sobre quando?

Sobre o que?

Ela acha melhor começar pelo assunto que sempre moveu sua vida. Por aquilo que a  mantém viva e imune a qualquer coisa: os amores!

Ah os amores! Foram todos eternos! Todos únicos! Mas só hoje ela sabe disso.

Viveu-os todos como se fossem o último. Como se sem eles, o mundo, a vida, acabassem. Mas não acabam...

Qual foi o primeiro mesmo?

Ah sim! Nossa, como de titubear! Era para ter morrido ali mesmo, no dia que conheceu a "noiva" do amado, uma menina linda e delicada, exímia bailarina, gestos leves. O oposto dela, sempre correndo, sempre atabalhoada! 

Tinham 12 anos. Marcio era um garoto diferente dos outros, loiro, cabelos longos,a "cara" do sujeito do Pink Floyd!
Ela sabia até quantos filhos teriam. Conhecia e era amiga da família, afinal,faria parte dela!

Até o dia que Lidia surgiu no colégio, transferida de outro bairro e derramou sobre sua vida as primeiras gotas (prá ela as últimas e definitivas) de um fel chamado decepção amorosa, não sabia de sua existência.
Imaginava que Márcio estivesse no mundo a sua espera!

Pela primeira vez na vida, não foi direto da escola prá casa. Ficou no pátio aos prantos. Era como se o mundo houvesse acabado, não sabia o que fazer ou para onde ir.
 Porque ele nunca havia falado em Lidia prá ninguem?

Porque parecia estar interessado nela?

As lágrimas criavam uma cortina impenetrável entre sua razão e seu comportamento... 

E foi ali, naquela situação, sentada na mureta do colégio, que aprendeu que a ajuda vem de onde menos se espera.

 Olga, colega de sala, mais velha (muito velha para seus padrões), com seus 14 anos, que sempre foi tão quieta e distante dos outros, sentou-se ao seu lado e perguntou se podia fazer algo.

Mas ela mau conseguia falar, soluçava.

Olga e seus cabelos enormes presos em um eterno coque e suas saias longas, sempre tão estranhas, esperou até que se acalma-se um pouco, foi buscar um copo de água (a melhor que já tomou) e perguntou novamente se podia ajudar.

 Respondeu que não, que sua vida havia terminado, que nunca mais seria feliz....

 Olga sorriu e perguntou se estava assim por causa da chegada triunfal de Lidia ao colégio.

 Ela se assustou.

Como Olga poderia saber?

- olha, disse Olga. Todo mundo sabe que você é apaixonada por ele. Mas pelo que eu soube os dois já namoram há muito tempo (1 ano...) até ficaram noivos! Mas existem tantos outros meninos, e muitos apaixonados por você... Jesus trará à você a pessoa certa, é só confiar.

Estas "revelações" sobre sua tolice e inocência a fizeram ter calafrios! Não entendeu o que Jesus tinha a ver com a história, tudo muito confuso...

Só hoje aqui, revendo sua história, se dava conta de que passou o resto daquela tarde com a amiga,conversando, recebendo carinho genuíno e claro, chorando o fim de sua vida amorosa para sempre!

Mas foi bom conhecer o valor de uma amizade, ainda mais vinda de um ser diferente, agora sabia que era  por convicções religiosas que Olga usava aquele cabelo,aquelas roupas.

Foi bom também ouvir aquelas frases bíblicas todas, que até então tinham passado despercebidas.

Finalmente foi para casa, olhos vermelhos, direto pro quarto de onde só sairia no dia seguinte para ir ao colégio e descobrir que Olga, já não estudava mais lá. Nunca mais soube dela....

Os sinos do mosteiro anunciam as atividades do começo de noite, e ela fica imaginando enquanto caminha, por quanto tempo ainda terá que fazer estas varreduras de memória para repensar  seus amores... foram tantos...

sábado, 10 de julho de 2010

Capitulo 1 - ela

O murmúrio das águas do lago agitadas pelas carpas vermelhas soa como música divina...
Sentar ali todas as tardes depois do almoço leve e revigorante, inspirado nas regras da culinária vegetariana, tem sido um programa delicioso.
A paisagem das montanhas cobertas pela mata ainda preservada em contraste com a belíssima construção do templo, reanima.
O som dos sinos, dos gongos e dos risos dos jovens monges reverberam e a fazem sorrir.
Está ali como visitante. Não é a primeira vez e as muitas visitas, iniciadas há mais de 30 anos quando ainda era uma jovem e rebelde "pesquisadora" dão à ela livre acesso a todos os pontos do mosteiro, respeitando claro, horários e a privacidade alheia.
Aquele lugar, lhe renova as energias, dá lucidez para os pensamentos e forças para retomar o dia a dia, que definitivamente não lhe cai bem.
As meditações e orações diárias e constantes são para ela ferramentas bem vindas de auto controle, e embora não seja um membro daquela comunidade, não deixa de participar.
Quanta coisa já aconteceu desde que esteve aqui pela primeira vez! Aquelas flores silvestres e delicadas são testemunhas de cada ato, fato e pensamento que inspiraram.
Muito conhecimento acumulado. Para que? Em busca do que? Respostas. Sentido para a vida. Um modo melhor de viver.
Hoje ela sabe que tudo isso é bobagem, quer viver bem? Apenas faça-o. Ninguém precisa de explicações para isso. Mas esta forma de pensar, não é comum. Há milhões de perguntas rodando o mundo, a vida, durante milhões de anos, nunca vai acabar. Ou você para, e acha seu ponto (seja ele qual for) ou vai girar junto com a Terra pela eternidade...
Além do que, hoje ela até acha que conhecimento demais atrapalha! E este pensamento a faz sorrir novamente... Se não tivesse buscado certas respostas..... Teria reagido como qualquer um. Com raiva, alegria, espanto, qualquer coisa que não fizesse com que as pessoas a olhassem como se fosse um ser de outro planeta. Como as personagens dos livros que a acompanham a qualquer lugar e que falam daquele mundo do qual ela parece fugir. Porque diabos está ali, naquele paraíso, carregando um livro que conta estórias sobre os tempos da guerra fria? Só sorrindo mesmo....
O som que chama de volta aos recintos de meditação soam ao longe junto com um leve ruído de carros que passam pela estrada tão perto e ao mesmo tempo tão distante dos que estão ali.
Amanhã, ela promete a si mesma, ficará aqui sem distrações, apenas trazendo de volta à lembrança sua história pessoal, deus desfechos ... e assim fará até o dia que conseguir se desvencilhar de suas consequências.
Um dia ela chegará ao equilíbrio entre o mundo que idealiza e a realidade do material, do vil metal e das injustiças do mundo. Sem explicações, apenas continuando a viver.
E em alguns minutos chega àté sua almofada de meditações para mais uma sessão.

Sejam Bem Vindos!

Olá pessoas!

Hoje, só passei aqui para apresentar à vocês este novo blog.

Ele é diferente do de Amália a Zeppelin, não será um espaço para comentários sobre a realidade. Será um espaço para a ficção, que na verdade ainda nem sei se consigo fazer.... Uma espécie de "editor de livros", em capítulos. Uma "novela virtual".

Espero que os seguidores do Amália me sigam aqui também e que ajudem a divulgar esta nova empreitada!

Espero que comentem também. Só que aqui, os comentários darão "rumo" às estórias/histórias que eu publicar. Não que irão interferir no texto, pode até ser, mas a ideia é que os comentários levantem questões pessoais e sociais que ajudem a todos a compreender melhor este mundo que anda de um jeito que dá vontade de descer!

Quando eu começo? Sei lá gente! Talvez hoje, talvez em dias, semanas. Quando o "santo baixar" E claro, que quando isso acontecer, como sempre faço atormento vocês com posts intermináveis no twitter, fazendo a indicação da leitura, ok?

Posso contar com sua ajuda?

Quero só ver. São 19:50 do dia 10 de Julho de 2010. Ainda não tenho seguidores. Veremos quantos serão em 24 horas.

Paz e Tal para todos!