sino

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Regressão Parte II

No 7º dia que George estava instalado lá, Mildred resolveu chama-lo para sua caminhada na praia. Ele que vivera esses dias como um encantado que obedecia ordens enquanto deslumbrava-se com sua deusa, sorriu finalmente.
E andaram em silêncio pela orla enquanto o vento gelado fazia voar os cachos de fogo de Mildred.
George não se atreveu a dizer palavra e nem notou os olhares por trás das janelas dos moradores da vila.
Mildred porém estava alerta quanto a uma pequena janela da casa anexa à igreja. E gostava de imaginar as lágrimas da menina por trás dela.
O passeio se repetiu por mais alguns dias em silêncio, até que em uma noite Mildred disse:
- Gosto que respeite o meu silêncio.
- Para mim senhorita, estar ao seu lado basta. Não percebe meus sentimentos?
- Que sentimentos? disse ela com cinismo.
-Senhorita eu a amo desde o primeiro dia que a vi quando ainda éramos crianças.
Fingindo surpresa Mildred disse:
- Minhas preces foram ouvidas! Sou amada pelo mais belo rapaz da vila! e jogou-se sobre ele em um abraço.
Naquela noite ele não dormiu no alpendre. E toda a vila percebeu.
O pai de George virava o rosto quando o avistava. A mãe o observava de longe,com tristeza. Os irmãos não tinham autorização para dirigir-se a ele e obedeciam com medo da reação do pai.
George nunca mais foi às reuniões da igreja onde uma tristonha Mary cuidava dos afazeres do culto,de sua casa e nada mais. A menina passava os dia fechada em seu quarto olhando o nada ou os visitantes noturnos da praia.
Mildred, que não tinha parentes vivos a quem dar satisfações, sentia-se à vontade para ir onde quisesse, inclusive à igreja.
George estava cada vez mais apaixonado. Fazia todas as vontades de Mildred e nem notava que ela pouco se interessava por ele. E assim foi por quase um ano.
Porém, em determinado momento, os excessos de cuidados dele, sua simples presença começaram a incomodá-la. Ela sentia falta da vida solitária de antes com a qual estava tão acostumada.
Além disso, o sofrimento de Mary já não lhe interessava. A moça tinha criado uma rotina de trabalho e reclusão. Deixara de ser divertido.
Mildred nunca havia almejado ter um marido, alguém que mais cedo ou mais tarde sairia daquele devaneio e começaria a lhe fazer cobranças, e antes que isso acontecesse, resolveu acabar com aquela situação.
No final do dia, quando George sentou-se par o jantar, ela disse:
- Fiz sua refeição favorita. Espero que aproveite, pois será a última.
- Como assim? Do que está falando?
-Não seja tolo George, Disse o que você ouviu! Esta é a última vez que você se senta nesta mesa. Amanhã pela manhã quero que deixe minha casa.
- Mas porque está fazendo isso? Não tenho feito tudo que posso? Não lhe dou todo o meu amor?
- Sim! Seu trabalho foi muito útil, mas agora é desnecessário.Gosto de viver sozinha e sinto falta disso. Quanto a amor... eu nunca pedi isso!
- Mas amor não se pede, se conquista!
- Pode ser George. Mas vejamos, você me ama. E o que eu tenho com isso? No dia que você apareceu aqui, o que lhe ofereci foi trabalho e hospitalidade. Além disso você está me obrigando a fazer algo que detesto: dar explicações! Por favor, deixe de ser ridículo, arrume suas coisas e saia pela manhã, como um homem!
Disse isso e saiu.
George passou aquela noite sentado ali, com a cabeça entre as mãos,atônito. Pela manhã, saiu sem saber direito o que fazer. Foi até a praia e sentou-se olhando para o horizonte. Nem percebeu o irmão que se aproximou  e disse: O que faz aqui a esta hora?
- George, olhos perdidos voltou-se e disse:
-Ronald! Há quanto tempo! E abraçou-se  ao irmão chorando.
- O que houve George.
E George contou-lhe. O irmão ouviu sem dizer nada apenas pensando em tudo que o irmão havia enfrentado para ter aquela mulher.
E George continuou:
- E agora não sei o que fazer. Nunca saímos daqui, não é? Não tenho como sair da vila, não tenho recursos. Minha única saída é procurar papai.
- Não sei se é uma boa ideia George, papai realmente não concorda com você.
Enquanto falavam, Ronald viu Mildred abrir a porta de sua casa, e disse ao irmão:
- Vamos sair daqui.
George estava decidido a voltar para a casa dos pais, Ronald pediu-lhe que primeiro deixasse que ele entrasse para preparar o terreno. E assim foi. Em minutos chamou George que entrou e abraçou a mãe. Contou-lhe o que aconteceu. Conversaram longamente e decidiram que juntos convenceriam o pai.  Ao chegar, o pai não gostou nada de ver o filho ali e já iniciou uma discussão. Ao final, George percebeu que na verdade, a maior preocupação do pai, foi a quebra do compromisso com o pastor e sua Mary, e prometeu ao pai que se pudesse contar com seu apoio, retomaria seu compromisso e o pai aceitou a ideia com entusiasmo.
No dia seguinte, George e o pai procuraram o pastor e falaram da intenção do filho. Ouviram um grande sermão , mas ao final, houve concordância, já que a tristeza de Mary preocupava o pai e ele sabia que a volta de George a faria feliz.
E foi o que aconteceu. George e Mary casaram-se meses depois. Ela muito feliz, ele apático para sempre, observando a felicidade de Mildred a distância até que alguns anos depois ela teve que deixar a vila pois corria o risco de ser acusada de bruxaria por criar medicamentos com as ervas. Era um período de intolerância e algum tempo depois, houve boatos de que havia sido morta pela inquisição.

Ela ouviu ao longe a voz de Sonia que dizia:
-Agora pode voltar ao normal, devagar, respire. E quando estiver pronta, pode se levantar.
Ela levantou-se e foi sentar na cadeira em frente à terapeuta, ainda espantada com tudo o que ouvira.
Sonia perguntou o que achara mas ela mais uma vez esquivou-se de fornecer pistas e apenas disse:
-Gostei sim, é possível fazer outra sessão?
- Claro, enquanto você sentir necessidade, podemos repetir o processo, mas pense em dar alguma informação ao seu respeito. E sorriu.
- Então fica assim, fazemos outra sessão e depois te digo algo sobre mi,
- Ok, marque com a secretária.

Ela marcou a sessão par dali a 15 dias. Saiu do consultório pensando no que ouvira e vira, pois enquanto Sonia falava ela podia dizer que via as imagens passarem na frente de seus olhos fechados, era como se estivesse revivendo a história. Na próxima sessão, prometeu a si mesma que após a regressão discutiria o assunto com Sonia e esclareceria suas suspeitas.

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