sino

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Parte 1

Como disse no post anterior, segue agora a primeira parte da primeira sessão de regressão de ela.

A voz de Sonia orientando a respiração foi trazendo calma e tranquilidade. Foram poucos minutos, sempre com a agradável sensação de envolvimento das luzes coloridas.

Em seguida,Sonia começou a falar:

- Uma praia com muitas pedras. Há muito tempo. Século XVII. Inglaterra.

A pequena vila litorânea tinha uma paisagem bela e selvagem. O mar batia forte nas rochas devolvendo as águas revoltas à praia em grandes ondas geladas.

O frio era intenso e a vida das pessoas corria ao sabor das estações, sem grandes alterações, embora o país estivesse fervilhando em uma revolução.

Mildred era uma linda jovem de longos cabelos ruivos que caiam pelas costas em caracóis. Vivia sozinha. O pai havia morrido em uma expedição de pesca e a mãe não suportara a perda do marido morrendo "de tristeza" como diziam,  logo depois.

Naquele tempo de lutas e violência fácil, muitas mulheres viviam sozinhas e isto não chamava a atenção.

Mildred ganhava seu sustento transformando ervas e folhas em medicamentos para todos os males. Aprendera o ofício com a avó.

Na vila havia mais 15 famílias, cujas casas distanciavam-se apenas alguns metros, o suficiente para manter alguma privacidade e manter os poucos animais.

Mildred acostumada à vida solitária e à concentração necessária para a produção dos medicamentos, relacionava-se pouco com os vizinhos, limitando-se a atendê-los quando buscavam sua ajuda e em poucos momentos da vida cotidiana.

Mas era observada.

George, vivia com os pais e seis irmãos todos homens e belos. Jovens mas trabalhadores. Era prometido de Mary, a  menina filha do líder religioso da vila.

George acostumara-se à ideia de que um dia se casaria com Mary, porém a visão diária de Mildred indo e vindo até a mata, macerando as ervas no pilão ou simplesmente caminhando no fim do dia pela praia o deixavam perturbado.

Sonhava com seus cabelos de fogo, seu porte altivo, decorava seus passos do dia à dia. Gostaria muito de falar com ela e aguardava ansioso por uma oportunidade.

E o dia chegou. Em uma tarde gelada o irmão mais jovem de George, Gilbert apareceu com uma febre alta e muita tosse. Sua mãe pediu a ele que fosse à casa de Mildred e pedisse o medicamento adequado.

George mal conseguiu conter a alegria.

Passou as mãos pelos cabelos, ajeitou as roupas e correu até a casa de Mildred.

Ela estava trabalhando no pilão e a imagem de seus cabelos esvoaçando quando ele a chamou, quase o fizeram esquecer do que fora fazer ali.

Começou a falar gaguejando e desconexo, não conseguia explicar ao certo do que precisava.

Mildred sem muita paciência ainda tentou esclarecer as coisas, mas desistiu e preferiu acompanhá-lo até em casa para ver o que se passava com Gilbert.

Lá, depois de definir o que seria necessário e recomendar que controlassem a febre com panos limpos encharcados em água do mar, disse à mãe dos garotos que o remédio estaria pronto no dia seguinte no início da tarde.

E assim como veio, indiferente ao desespero de George, saiu, mas não sem sorrir para si mesma ao lembrar-se do jeito desajeitado do rapaz.

Na manhã seguinte, após tomar uma xícara de chá, saiu para colher as ervas.

Na entrada da mata,quase por reflexo, percebeu a presença de George empoleirado no portão de sua casa para conseguir vê-la como sempre. Balançou a cabeça sorrindo achando graça. Já notara o interesse do noivo de Mary e isso lhe trazia um misto de orgulho e desejo de experimentar uma disputa com a jovem e bela filha do pastor. E naquela manhã enquanto terminava seu trabalho, decidiu que iria apostar na brincadeira.

Tinha certeza de que seria George que viria buscar o remédio, então resolveu arrumar-se mais do que o habitual. Colocou seu vestido mais belo, de um verde esmeralda que destacava ainda mais a cor de seus cabelos.Beliscou as faces, soltou os cabelos e aguardou, ciente de sua extrema beleza.

E no primeiro minuto do início da tarde, George tocou o sino de sua porta. Desta vez, ela não o atendeu na porta como fazia com todos,convidou-o a entrar enquanto embalava o remédio e dava as explicações necessárias sobre seu uso.Caprichou em movimentos leves e sedutores diante do rapaz que mal podia respirar. Ao final das explicações, olhou bem dentro dos olhos dele e disse que se houvesse dúvidas, voltasse para esclarecê-las.

Diante da paralisia do rapaz acrescentou: - Agora vá sr.Watson (era o nome de família), sua mãe deve estar ansiosa.

George sobressaltou-se como se acordasse de um sonho e balbuciou:- pode me chamar de George srta Taylor, deixe Watson para meu pai.

Mildred, lânguida respondeu: - George? Belo nome! E fez um ar de encantamento.

George encantado com as palavras, saiu aos tropeços dizendo palavras de agradecimento.

Gilbert foi medicado e recuperou-se em poucas horas.A sra Watson, feliz e agradecida disse ao filho: - George, acho que devemos oferecer à srta Taylor uma cesta de frutas pelo bem que fez ao seu irmão.

- Como queira mamãe. Disse George já agradecendo mentalmente a Deus pela nova chance .

E três dias depois do último encontro,lá estava George na porta de Mildred com uma linda cesta de frutas e flores arrumadas por sua mãe.

Desta vez não precisou tocar. Mildred estava lá fora pendurando roupas. Ao vê-lo apenas acenou com a cabeça para que entrasse. E ele, trôpego foi até ela..

George explicou o motivo da visita enquanto Mildred o olhava diretamente deixando-o ainda mais sem graça e confuso.

Como resposta ela apenas pegou uma das frutas mordeu-a e disse: - Deliciosa. Fico feliz que seu irmão esteja bem sr.... quer dizer, George.

- Sim srta Taylor, minha mãe ficou muito agradecida.

- Pode me chamar de Mildred meu caro.

George respirou fundo e disse:

- Obrigada srta, é muita honra. Eu .. eu gostaria de fazer uma pergunta. Gostaria de saber se poderia acompanha-la em sua caminhada noturna na praia.um dia desses. Poderíamos conversar um pouco, poderia me falar de suas habilidades com as ervas.... 

- Não George, não poderia. Mary e o pastor não aprovariam. Você sabe o que dizem, que sou estranha, não procuro as pessoas. Além disso, Mary é sua noiva!

- Me perdoe senhorita se fui muito ousado.

- Não, não foi ousado, apenas se esqueceu das regras básicas.O senhor é um rapaz comprometido.

E Mildred disse isso com ar de tristeza para o desespero de George que entendeu a mensagem como um sinal de aceitação caso não fosse noivo.

Ele desculpou-se várias vezes e foi embora. Nos dias seguintes, a cada visão de Mildred tinha mais certeza de que a queria para si e que para isso teria que desfazer-se do compromisso com o pastor e sua filha. Aquilo lhe deu uma coragem que desconhecia. E ao final do culto do domingo pediu para falar a sós com o religioso e contou a ele sobre sua decisão. O discurso interminável e raivoso era esperado. E o pastor ficou ainda mais irritado ao saber que os pais do rapaz ainda não haviam sido informados. Como George ousava desfazer um compromisso entre as famílias sem autorização deles! Mas decidiu que isso agora era problema de George. Chamou a filha até a sala e na presença do rapaz, contou-lhe o que estava acontecendo. Os jovens olhos azuis de Mary encheram-se de lágrimas mas ela não disse nada. Aguardou que o pai a autorizasse a sair e correu para casa. No caminho não pode deixar de notar  ao longe, Mildred conversando com um grupo de senhoras. E não podia definir se o que sentia era dor ou raiva.Seu coração parecia quebrado em mil pedaços. Em casa, trancou-se no quarto e atirou-se na cama e chorando muito decidiu que não aceitaria nenhum outro pretendente que o pai determinasse. Viveria só pelo resto da vida.

Em um lugarejo tão pequeno as notícias voam e quando chegou em casa, George já era esperado pelos pais cheios de perguntas e recriminações. A mãe chorava muito e o pai insistia em um discurso moralista. Falava de sua decepção por perder uma nora casta e de boa família e a cada sinal de que a decisão de George era definitiva, mais revoltado ficava o sr Watson até culminar na expulsão de George daquela casa.

George estava tão envolvido com seus sentimentos que não pensou duas vezes. Pegou algumas roupas despediu-se da mãe e saiu.

A vila não tinha moradias desocupadas. Havia como abrigo, apenas os restos de um velho celeiro incendiado há alguns anos. E foi lá que George largou sua trouxa e improvisou uma cama de feno. Em seguida saiu em busca de gravetos e lenha para fazer uma fogueira antes do anoitecer..

Os novos acontecimentos já haviam chegado aos ouvidos de Mildred. E ela, apenas ela, sabia dos motivos das atitudes de George. E sorria vitoriosa, imaginando quanto tempo aquele rapaz tão tolo levaria para procura-la.

Não demorou muito. Na manhã do dia seguinte, um George meio amarrotado pelas acomodações improvisadas e um tanto ruborizado batia a sua porta.

Mildred abriu a porta e fez cara de surpresa, dizendo um "George" doce e sensual.

George não se conteve e foi logo dizendo: - Srta. acredito que já conheça as novidades, assim vim refazer meu pedido para acompanha-la em seus passeios.

- Bem, como o senhor disse, diante das novidades isso seria possível, se o senhor tivesse uma aparência mais bem cuidada. Mildred disso isso olhando-o de cima a baixo com ares de desdém.

-Senhorita, me perdoe se não estou adequadamente vestido para me apresentar aqui,mas é que minhas novas condições...

- Está com fome George, disse Mildred interrompendo o rapaz.

- Ahn.... confesso que sim senhorita.

-Sente-se aí no alpendre que vou buscar algo para comer.

Ele obedeceu ainda meio confuso. Mildred voltou logo com a caneca de chá e um pedaço de pão. Sentou-se ao seu lado e disse: - Coma e depois se quiser pode usar a tina perto do pilão para um banho. E se quiser, pode dormir no alpendre enquanto não constroi uma moradia decente ou decide o que fazer.

- Tem certeza senhorita. Não vou incomodá-la?

- Se incomodasse eu não ofereceria. Preciso de ajuda com o corte de lenha e o carregamento de água lá da fonte. Se aceitar, estas tarefas serão a forma de pagamento pela hospedagem e pela comida.

- Ótimo senhorita.

- Mildred! ela disse

- Sim, Mildred, permita-me. E George pegou suas mãos e beijou-as.

Mildred as puxou rapidamente e disse:

- Então comece. Estou sem lenha para o jantar.   

Um comentário:

  1. Nem a todas as palavras correspondem exactamente o que cada um lê delas! Aparentemente, George não sabia ler...

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