sino

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Capítulo 4 Amores - Depurando

Ao chegar na sala de reuniões, Mestre Miguel já falava sobre as seis perfeições e não deixou de notar que estava atrasada.
Mestre Miguel era uma espécie de monge e gerente do mosteiro. Brasileiro, gaúcho, estudara no Tibet por 8 anos antes de retornar ao Brasil e assumir a parte burocrática e relações externas do mosteiro. As pessoas se surpreendiam com seu bom humor e com a facilidade com que transmitia ensinamentos complexos de forma simples e alegórica, especialmente aos visitantes de primeira viagem.
Logo na primeira vez que ela visitou o mosteiro, a amizade entre os dois floresceu. Como Miguel tinha muitos afazeres,entregou a orientação dela aos cuidados de Ling.
Formavam um trio inusitado! Hospedavam-se em sua casa quando iam à cidade e não se cansavam de relembrar as dificuldades que ela lhes causou nas primeiras vezes em que os visitou. Ela era ansiosa e rebelde, exigia respostas que eles diziam não existir... e foi por isso que ao final de sua palestre,Mestre Miguel pediu a Ling que a chamasse para uma conversa.
Ela entrou na sala de Miguel, fez a reverência habitual e a completou com um beijo no rosto que sempre o constrangia.
- Olá Mestre! Queria falar comigo?
- Minha amiga, percebi que chegou atrasada nas atividades da manhã. E apenas queria saber se posso ajudar em algo. Como vai sua busca? As lembranças estão sendo organizadas?
- Desculpe pelo atraso! É que essa minha viagem interior, às vezes me leva aos tempos de   ansiedade e irresponsabilidade! Fui dormir muito tarde!
- Não precisa se desculpar, eu apenas estranhei. E você nunca foi irresponsável minha querida, ao contrário! Saia do ritmo por buscar caminhos corretos. Achou? (ele sorri)
- Mestre, o que descobri é que não existem os tais caminhos. A vida é feita de vida e esta é instável, inconstante. Mas estou chegando lá. Minhas viagens já estão todas organizadas, em breve aterrizo no presente (riram juntos).
- Então está bem, vamos lá que a hora do almoço está chegando.
Depois do almoço, ela reencontrou a mocinha dos cabelos dourados em frente à grande estátua de Buda, e a moça perguntou:
- Se ele era tão sábio, era vegetariano e caminhava o tempo todo, como podia ser tão gordo?
Ela sorriu e explicou que  na verdade,a figura de um homem gordo e sorridente apenas representava a plenitude do ser, a força, mas que Buda nunca foi gordo.
A garota disparou perguntas a que ela foi respondendo pacientemente até que se despediu dizendo que tinha tarefas a cumprir.
Definitivamente a garota fazia lembrar-se de si mesma.
Voltou para seu quarto, já que com tantos visitantes não conseguiria isolar-se em nenhuma outra parte do mosteiro. Sentou-se em sua almofada, ligou o som em um mantra  de concentração e ficou assim por alguns minutos. Quando terminou, a figura de Lucas jovem, já estava presente diante dela.
Foi uma juventude muito feliz. Ela, Paulo e Lucas iam e voltavam para a escola juntos, ao clube, aos bailes, cantavam e eles tocavam violão o tempo todo. Ela e Lucas namoravam por alguns meses, terminavam, voltavam...
As pessoas que os conheciam e os amigos já nem estranhavam mais.
Já naquela época, ela estranhava um comportamento de Lucas: quando as pessoas estavam mais empolgadas com a música que ele tocava,ele simplesmente parava gerando grandes protestos.E era sempre assim.Ela estranhava mas deixava prá lá. Não compreendia.
Também chamava a atenção de todos o vocabulário dele, incomum naquela idade, cheio de frases de efeito sempre usadas na hora certa! Ficavam admirados como ele tinha resposta para tudo!
Mas a vida foi passando entre cantos,danças, esportes e risos. Muitos amigos queridos, alguns que levariam até a idade adulta.
Quando ela e Lucas estavam com 18 anos, uma tragédia acometeu o grupo. Paulo, morreu,segundo informações da época de um aneurisma cerebral. O choque foi terrível para todos. Os fez crescer.Para ela, foi a descoberta da Doutrina Espírita, precisava de algo que a consolasse.
Lucas também ficou abalado, mas agia estranhamente e pouco tempo depois, parecia que nada de grave havia acontecido, embora sempre falasse do amigo com carinho e saudade.
Nesta época,ele conheceu Sonia, 5 anos mais nova, linda,com quem namorou por sete longos anos até se casarem.
Mas,durante esses 7 anos, Lucas nunca se afastou dela. Ela odiava as palavras, mas o que tinham era "um caso", eram amantes. E os dois acreditavam que não estavam traindo ninguém. Eram pessoas à parte, as pessoas que entravam em suas vidas é que estavam invadindo seu espaço, nunca o contrário.
Ela vivia com os pais idosos e uma tia doente. Estudava e trabalhava. Não tinha liberdade de trazê-lo em sua casa, portanto, viam-se em qualquer oportunidade que aparecesse.
Foi em um dia desses,em que estaria livre para vê-lo que ela telefonou o dia todo para Lucas sem sucesso. Ligou à noite, na madrugada também, e nada. Estava preocupada,mas,como ninguém atendeu, imaginou que Lucas e os pais haviam viajado para resolver alguma coisa na casa de praia.
Na manhã seguinte, ao acordar, correu novamente para o telefone, apreensiva. Desta vez, Lucas atendeu. Ela quase não conseguia falar. Perdera o fôlego com o alívio...
- Oi!
- Oi! E aí? tudo bem?
- Tudo! Nossa, liguei ontem o dia inteiro, a noite, onde você se escondeu?
- É eu não estava aqui.
- E seus pais? Foram para a praia?
- Foram
- Você voltou sozinho ou eles estão aí também?
- Não, eles foram sozinhos eu não fui com eles.
- Ah é... E onde o senhor esteve a noite toda? (rindo)
- Olha, se quiser venhaprá  cá, precisamos conversar.
- Ih Não tô gostando!Aconteceu alguma coisa? Eles estão bem?
- Não tem nada a ver com eles. Anjo,é o seguinte, eu não moro mais aqui. Só passei prá pegar umas coisas e por água nas plantas porque minha mãe vai ficar fora a semana toda.
- Como assim, não mora mais aí? Brigou com eles?
- Não
- Caramba! Dá prá dizer o que está acontecendo? (ela já estava irritada e quase gritando)
- Não quer vir aqui? Estou com saudade
- (já derretida) Não Lu, fala logo o que aconteceu.
- Anjo, anteontem foi o dia do meu casamento .
 Ela perdeu a voz, ficou com o telefone nas mãos geladas, mau conseguia respirar...
- Alô! anjo....
- ..............................................

2 comentários:

  1. Pátricia
    Bela postagem.
    Parabéns pelo seu belo trabalho.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história e cientista social

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  2. Olha, estou ficando viciado na leitura de seus escritos. Já tô doido pra saber o que vem pela frente.
    Parabens mais uma vez!

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